INCA e sociedades médicas discordam sobre estratégias de combate ao câncer de pulmão

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Enfoque no rastreamento divide opiniões entre prevenção e diagnóstico antecipado

Em um debate realizado na Comissão Especial sobre Combate ao Câncer nesta terça-feira (25), o Instituto Nacional do Câncer (INCA) e a Aliança contra o Câncer do Pulmão, composta por seis sociedades médicas, apresentaram divergências significativas quanto à ênfase no rastreamento como estratégia de enfrentamento da doença.

O câncer de pulmão figura como o terceiro mais incidente entre os homens e o quarto entre as mulheres, com aproximadamente 32 mil novos casos por ano no Brasil e 1,7 milhão ao redor do mundo. Aproximadamente 90% dos casos estão associados ao tabagismo, e os sintomas geralmente se manifestam em estágios avançados da doença, frequentemente após os 50 anos de idade.

Roberto de Almeida Gil, diretor geral do INCA, defendeu fortemente campanhas de controle do tabagismo e de diagnóstico precoce como medidas essenciais para lidar com o aumento da incidência de câncer de pulmão devido ao envelhecimento da população. Ele destacou que políticas públicas preventivas conseguiram reduzir a incidência da doença de 35% para 12%, com uma notável diminuição na mortalidade, especialmente entre os homens, desde 2005.

Gil expressou preocupação com os potenciais benefícios e riscos do rastreamento, incluindo taxas de resultados falso-positivos em pacientes com tuberculose e outras condições. “Precisamos ter cautela, pois nossa rede de atenção ainda não está preparada para lidar adequadamente com casos avançados. Temos muitos desafios pela frente para não sobrecarregar um sistema já bastante estressado.”

Por outro lado, Carlos Gil Ferreira, presidente de honra da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), reconheceu a importância das campanhas de conscientização, mas enfatizou que estratégias de rastreamento representam uma “janela de oportunidade” no enfrentamento da doença.

Daniel Bonomi, diretor científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), ressaltou os avanços tecnológicos, como a tomografia computadorizada de baixa dose (TCBD), que substituiu métodos anteriores como raio-x e exame de escarro, resultando em melhorias significativas no diagnóstico e tratamento precoce.

Representantes da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), ambos integrantes da Aliança contra o Câncer do Pulmão, citaram evidências científicas que respaldam o rastreamento como uma medida eficaz para antecipar diagnósticos e reduzir a mortalidade.

A deputada Flávia Morais, organizadora do debate e autora de projetos de lei relacionados ao tema, reforçou a importância da legislação para orientar o rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de pulmão, equiparando-o a iniciativas já existentes para outros tipos de câncer, como mama e próstata.

Durante a audiência, foram apresentadas experiências bem-sucedidas de rastreamento em hospitais de São Paulo e do Rio Grande do Sul, incluindo casos atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). César Neves, representando o Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Saúde (CONASS), enfatizou a importância da atenção primária na detecção precoce, que pode alterar significativamente o curso da doença e aliviar os custos do sistema público de saúde, frequentemente sobrecarregado com tratamentos avançados e paliativos.

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