“Trata-se de uma questão de sobrevivência para o setor empresarial brasileiro”, afirma José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac.
O crescimento da dívida pública poderá gerar impactos significativos no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro nos próximos 50 anos, afetando a saúde financeira das empresas no país. Este é o alerta da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em um estudo divulgado nesta terça-feira (1º). A CNC projeta que, sem reformas estruturais, como a reforma administrativa, o prejuízo acumulado pode ultrapassar R$ 1,375 trilhão, ameaçando a sustentabilidade dos negócios.
Segundo o estudo, a cada aumento de 1 ponto percentual na dívida pública em relação ao PIB, o Brasil perde cerca de R$ 1,3 bilhão anualmente, o que reduz os investimentos privados, encarece o crédito e prejudica a competitividade do país. A CNC considera a reforma administrativa como essencial para evitar a estagnação econômica e o aumento da pressão fiscal sobre as empresas. O presidente da entidade, José Roberto Tadros, destacou a importância da reforma para a sobrevivência do setor empresarial.
O estudo mostra que, nos últimos 10 anos, o Brasil teve um crescimento de 84%, com uma taxa média de 7% ao ano. No entanto, os gastos públicos cresceram a uma taxa de 53% ao ano nas últimas duas décadas, enquanto as receitas aumentaram 35%. A CNC aponta que essa diferença tem gerado déficits consecutivos, levando o governo a aumentar o endividamento e a pressionar o setor produtivo com juros elevados e uma carga tributária crescente.
De acordo com a CNC, sem a reforma administrativa, o desequilíbrio nas contas públicas poderia exigir um aumento de até 9% do PIB na carga tributária. O presidente da CNC alertou que essa situação impactaria severamente o setor produtivo, que já enfrenta uma alta carga de impostos. Ele afirmou que, sem uma revisão nos gastos públicos, as empresas sofreriam com a elevação de impostos, comprometendo sua capacidade de competir e crescer.
Atualmente, a carga tributária no Brasil é equivalente a cerca de 33% do PIB, um dos maiores percentuais do mundo, o que afeta diretamente a competitividade das empresas. Além disso, a CNC observou que mais de 96% das despesas do governo federal são obrigatórias, dificultando ajustes fiscais e ampliando os desafios na gestão das contas públicas.
O estudo projeta que, sem reformas, a dívida pública pode atingir 100% do PIB até 2033, o que aumentaria o custo do financiamento e reduziria investimentos em áreas estratégicas como infraestrutura, saúde e educação. A CNC afirma que essas áreas são essenciais para a competitividade do setor empresarial no cenário global.
Os cálculos da CNC mostram que as despesas do governo cresceram a uma taxa média de 5,3% ao ano desde 2002, enquanto as receitas aumentaram 3,7%. Esse desequilíbrio tem gerado déficits primários consecutivos, obrigando o governo a aumentar o endividamento, o que pressiona o setor produtivo com juros elevados e instabilidade econômica. Para as empresas, isso significa maior custo de crédito, redução de investimentos e perda de competitividade.
O estudo também revela que a dívida pública passou de 45,3% do PIB em 2008 para 77,8% em 2023, com uma tendência de crescimento contínuo. Esse cenário, segundo o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, gera um ciclo de endividamento que aumenta os custos financeiros e limita a capacidade do país de realizar investimentos públicos que poderiam impulsionar o setor privado.
A CNC estima que a reforma administrativa poderia gerar uma economia de R$ 330 bilhões em 10 anos, além de atrair novos investimentos por meio de privatizações e concessões. O estudo também destaca que, para cada aumento de 10 pontos percentuais na dívida pública, há uma redução de 0,12 pontos percentuais no crescimento econômico anual, o que impacta diretamente o desempenho das empresas.
Além disso, o estudo sugere a necessidade de melhorar a alocação dos gastos públicos, especialmente na educação, onde, segundo a CNC, o Brasil investe mais por aluno no ensino superior do que no ensino fundamental, o que contribui para um desempenho inferior em avaliações internacionais, como o Pisa.
Por fim, a CNC lançou, no domingo (29), uma campanha na TV aberta e nas redes sociais para chamar a atenção sobre a importância de controlar a dívida pública, visando o desenvolvimento econômico do país.